Sobre amores e a Caixa de tomates.
Era manhã de feira, e lá estava eu a escolher tomates para
completar uma caixa.
Não sei se pela manhã de tempo nebuloso, ou se foi culpa do
show do Roberto, de repente cada tomate que pegava se tornava um pequeno coração
vivo, pulsante.
Esvaziei novamente a caixa e recomecei, milhões de lembranças
pipocaram em minha mente, milhões de momentos há tanto passado e outros nem
tanto.
Aquele cara que gritou pro mundo que te amava, escolhi um
tomate bem vermelho, maduro, porém firme. Aquela amiga que esteve com você num
momento tão delicado, um tomate pequeno ao toque, macio, mas muito suculento.
E
assim fui escolhendo tomates, por cada momento de amor e carinho que conseguia
lembrar, momentos que enchiam o meu próprio tomate dentro do peito de alegria e
vida.
E a caixa se encheu acima da quantidade permitida, quanta exuberância
de sentimentos tinha ali entre meus braços, fiquei exultante!
Mas não queria levar todos, tinha que tirar alguns, então no
movimento inverso, retirei um tomate da caixa por cada lembrança de amor não
correspondido e frustrado que podia lembrar, e meu tomate dentro do peito se
tornou pequeno, meio passado, ácido. E nesse processo tenebroso e cruel das
minhas lembranças, fui retirando, um a um todos os meus tomates de desilusão, mágoa,
tristeza, por vezes traição.
E a caixa aos poucos foi se esvaziando, e dessa feita não me
senti exultante.
E aquela que antes transbordava, minguava a cada instante, e assim, acabei com uma caixa de tomates quase cheia.
Olhei com uma certa tristeza, mesmo os grandes amores que
ficaram na caixa não eram suficientes para aplacar meu coração, pois todos eles
estavam no passado, um ou outro no presente, e quem sabe se existiria um
futuro.
Por um momento pensei que queria ter sido mais amada, ou mesmo ter
amado mais, como se o tempo tivesse estancado ali, como se fosse o fim!
Perdida nos meus pensamentos dolorosos e cruéis fui
despertada pelo dono da banca dizendo: - A senhora não gostou dos tomates?
Pegue alguns de graça, ou volte semana que vem, a safra vai ser nova, talvez
eles estejam mais do seu agrado!
Semana que vem? Pensei com os meus botões, semana que vem
novos tomates!! Uma nova safra? ! Uma nova experiência?!?!?!?
E devagar meu tomate no peito se fortaleceu, totalmente consciente
da vida que carregava. Não existe fim. Semana que vem novos tomates! Por que
estou viva, e é só o caminho que importa. Semana que vem posso ter vivido um
novo amor, ou uma nova decepção, posso ter conhecido novas pessoas. Enquanto
houver vida as possibilidades são infinitas.
Saí de lá, bem mais animada do que quando cheguei, com minha
caixa de tomates quase cheia, pois amor de graça me dá azia.
É vida que segue!
Afinal, “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções
eu vivi”!
Inspirada na minha
Safra Especial que é feita do amor do mais puro que há.
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Adorei sua participação. Assim que tiver um tempinho livre entre um drama e outro, envio resposta. bjs